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Construção

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Música Construção; Chico Buarque

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Construção

Música Construção; Chico Buarque

Edgar Herrera
1

Comeu acabou Beijou feijão gargalhou Amou Sentou arroz seu sua contramão Ergueu Morreu Subiu tropeçou Dançou atravessou Agonizou

CONSTRUÇÃO

daquela vez como se fosse a última
sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
pra descansar como se fosse sábado
feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
e como se ouvisse música
E no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se no chão feito um pacote flácido
no meio do passeio público
na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu com como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra - mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer , por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar , por me deixar existir
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pagu e