Que
a
crise
nos
encontre
unidos
Gostaria
de
recordar
aqui
uma
passagem
do
Canto
Sexto
d'Os
Lusíadas
,
que
celebra
a
chegada
expedição
portuguesa
à
India
.
Os
marinheiros
,
dependurados
gávea
,
avistam
finalmente
«terra
alta
pela
proa»
e
passam
notícia
piloto
que
,
por
sua
vez
,
a
anuncia
vibrante
a
Vasco
da
Gama
.
O
objetivo
missão
está
assim
cumprido
.
Mas
o
Canto
Sexto
tem
uma
exigente
composição
em
antítese
,
à
qual
não
podemos
não
prestar
atenção
.
É
que
à
visão
sonho
concretizado
não
se
chega
sem
atravessar
uma
dura
experiência
crise
,
provocada
por
uma
tempestade
marítima
que
Camões
sabiamente
se
empenha
descrever
,
com
impressiva
força
plástica
.
Digo
sabiamente
,
porque
não
há
viagem
sem
tempestades
.
Não
há
demandas
que
não
enfrentem
a
sua
própria
complexificação
.
Não
há
itinerário
histórico
sem
crises
.
Isso
vem
-
nos
dito
n'Os
Lusíadas
Camões
,
mas
também
nas
Metamorfoses
de
Ovídio
,
Eneida
de
Virgílio
,
na
Odisseia
de
Homero
ou
Evangelhos
cristãos
.
No
itinerário
de
um
país
,
cada
geração
é
chamada
a
viver
tempos
bons
e
maus
,
épocas
de
fortuna
e
infelizmente
também
infortúnio
,
horas
de
calmaria
e
travessias
borrascosas
.
A
história
não
é
um
continuum
,
mas
é
feita
maturações
,
deslocações
,
ruturas
e
recomeços
.
O
importante
a
salvaguardar
é
que
,
como
comunidade
,
nos
encontremos
unidos
em
torno
da
atualização
valores
humanos
essenciais
e
capazes
de
lutar
por
eles
.
Mas
à
observação
realística
que
Camões
faz
tempestade
,
gostaria
de
ir
buscar
um
detalhe
,
na
verdade
uma
palavra
,
a
reflexão
que
proponho
:
a
palavra
«raízes»
.
Na
estância
79
,
falando
dos
efeitos
devastadores
vento
,
o
poeta
diz
:
«Quantas
árvores
velhas
arrancaram
/
Do
vento
bravo
as
fúrias
indignadas
/
As
forçosas
raízes
não
cuidaram
/
Que
nunca
para
o
Céu
fossem
viradas»
.
A
leitura
da
imagem
em
jogo
é
imediata
:
as
velhas
árvores
reviradas
contrário
,
arrancadas
com
violência
ao
solo
,
expõem
dramaticamente
,
a
céu
aberto
,
as
próprias
raízes
.
A
tempestade
descrita
por
Camões
recorda
-
nos
,
assim
,
a
vulnerabilidade
,
a
qual
temos
sempre
de
fazer
de
conta
.
As
raízes
,
que
julgamos
inabaláveis
,
são
também
frágeis
,
sofrem
os
efeitos
da
turbulência
máquina
do
mundo
.
Não
há
super
-
países
,
como
não
há
super
-
homens
.
Todos
somos
chamados
a
perseverar
com
realismo
e
diligência
nossas
forças
e
a
tratar
com
sabedoria
das
nossas
feridas
,
pois
essa
é
a
condição
tudo
o
que
está
sobre
este
mundo
.
(
excerto
do
discurso
de
Dom
José
Tolentino
de
Mendonça
no
dia
10
de
junho
,
Dia
de
Portugal
,
de
Camões
e
das
Comunidades
Portuguesas
)
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