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O rei dos comilões

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Glória Sousa
Glória Sousa
Portugal

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    Glória Sousa
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O rei dos comilões

Completa o texto com as palavras dadas.

Glória Sousa
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Era uma vez um rei que era um grande . Era o rei dos comilões . E como não havia ele de ser o rei , se o reino se chamava Comilândia ou dos Comilões ? Empanzinava - se o rei , do pequeno - à ceia , e empanzinavam - se os seus súbditos , em menor quantidade , claro , mas também com fartura , pois então !
Era um de abundância aquele . Tudo nascia , crescia e dava fruto que era uma admiração . O trigo a abarrotar os , o gordo gado a pastar nos prados , a água e o vinho a jorrar das fontes , as couves tronchudas a alegrar as hortas , enfim um país de maravilha , um país nunca visto , meus .
O que a terra dava chegava e sobrava . E o que sobrava era muito . Se fosse distribuído pelos países vizinhos , que não tinham a mesma sorte da Comilândia , a fartura tocaria a todos , a toda a gente , a todo o . Mas neste ponto , o rei comilão e rei dos comilões não era do mesmo parecer .
? Cada um que trate de si - dizia o monarca .

Ora um dia , estranho dia , aconteceu uma coisa de espantar . Foi o caso que o rei , dirigindo - se para o , onde iria tomar o seu pequeno - almoço , perdeu o apetite . Perdeu o rei o apetite , antes de chegar à mesa do banquete , e não conseguiu lembrar - se de onde o teria deixado .
- O rei perdeu o apetite - murmuram os conselheiros para os ministros , os ministros para os generais , os generais para os conselheiros , os conselheiros para os ministros , os ministros para os generais , num murmúrio sem fim .
Puseram - se todos à procura do real , mas sem resultado . Seria possível que o famoso e realíssimo apetite desaparecesse , sem quê nem porquê , de um momento para o outro ? Onde teria Sua Majestade deixado o apetite ?
O mais estranho nisto tudo é que os súbditos , por voltas e reviravoltas do destino , também foram perdendo o apetite . Vendo bem , não havia motivo para espantos . Eles , que em tudo seguiam Sua Majestade , acompanhavam - na neste passo , da mesma forma que a tinham acompanhado , como glutões , nos muitos reais .
A doença , que não tinha sinais de doença , alastrou . Andava todo o reino com fastio . Os frutos apodreciam nas árvores , as couves secavam nas hortas , o vinho e a água inundavam as terras , o gado devastava os trigais . Ninguém sentia vontade de comer , ninguém se dispunha sequer a estender um braço para colher os frutos da abundância . Estava o reino perdido .
Sentindo a ameaça dos vizinhos cobiçosos , dispostos já a atravessar as fronteiras , empunhando espadas e lanças , os conselheiros lembraram ao rei , que fora comilão , a necessidade de distribuir as colheitas e os bens armazenados pelos habitantes dessas terras pobres , que circundavam o reino .
- Nunca ! - barafustou o avarento . - Cada um que trate de si .
Insistiram os conselheiros , lembrando - lhe , como argumento , que esses bens e alimentos já não eram necessários ao país . Assim conseguiram convencer o rei e logo ali se combinou um encontro entre monarcas vizinhos e o rei , que fora comilão .
Enviados os , todos aceitaram . Cheios de curiosidade , vieram , com os seus séquitos , conhecer a hospitalidade da farta terra dos Comilões .
Houve cerimónias , negociações amigáveis e um grande projecto de distribuição dos excedentes do reino às populações mal alimentadas dos reinos vizinhos . No fim de tudo , um banquete oferecido pelo rei visitado aos reis visitantes assinalou condignamente os contratos de .
Querem então saber uma coisa ? Nesse jantar , pela primeira vez há muito tempo , o rei da Comilândia sentiu crescer - lhe água na boca , ao cheiro dos manjares trazidos para a mesa .
Voltara - lhe o apetite , tal como a todos seus súbditos . Não era um apetite desalmado como dantes , mas uma boa e saudável fome , que nascia na barriga e não nos olhos . . .
E assim acaba a . E acaba bem .